sábado, 13 de agosto de 2011
Editorial
O dia-a-dia pós-moderno leva-nos a desenvolver uma relação mais tensa com o tempo. Dá a impressão de que ele passa mais rápido a cada dia. Vivemos na correria, sempre apressados, tarefas a realizar, atrasados com algo, prazos vencendo... A frase “Estou sem tempo!” virou expressão comum no cotidiano da maioria das pessoas. Passamos o dia todo acelerados e deitamos com a certeza de não ter dado conta dos afazeres e, o pior, a impressão de não ter vivido com plenitude e de forma prazerosa o dia. Talvez a postura mais saudável a ser desenvolvida com relação ao “senhor” tempo seja a de um poeta mineiro que escreveu: “Quando com ele não posso faço acordo, sorrio com os motivos de suas alegrias e poetizo as tristezas, que de suas mãos se desprendem. Mas quando com ele posso, ah, quando com ele posso, eu dele me esqueço, e vivo!”
Falando em tempo veloz, já estamos no segundo trimestre de 2011! E a nossa A Sementeira mais uma vez chega às suas mãos. Rapidinho, não?
Neste período muita coisa aconteceu em nosso seminário. Para começo de conversa, temos um novo bispo! Dom Emanuel tomou posse em nossa diocese numa linda cerimônia, trazendo muita simpatia e esperança para nós e todo o rebanho confiado a ele.
Tivemos o acolitado dos seminaristas de Guanhães, participamos de missões, encontro de turmas, encontro vocacional. Nossa formação foi marcada com manhã de espiritualidade com dom Vitral, bispo de Teófilo Otoni; orações especiais na Quaresma, Páscoa e Pentecostes. As turmas da Filosofia realizaram a 2ª Jornada Tomista, apro-fundando o tema dos pecados capitais. O curso de Teologia promoveu o encontro de pais, momento festivo e de partilha entre nós e nossos amigos e familiares.
Tudo isso você confere nesta edição de nosso informativo. Esperamos que tenha tempo para aproveitá-la.
Um abraço fraterno, até a próxima!
Os santos, quem são?
Pe. Paulo Carrara, C.Ss.R.
Professor de Mítica o Seminário Diocesano
A Igreja viveu há pouco um momento especial: a beatificação de João Paulo II. No Brasil, a de Ir. Dulce. Mais tarde, com a canonização, serão declarados santos. Mas, quem são os santos? Partimos de uma expressão muito conhecida, mas sempre nova e surpreendente quando a analisamos: segundo São Paulo, o cristão “está em Cristo” (2 Cor 5, 17), é “um homem em Cristo” (2 Cor 12, 2), por participação em sua Páscoa. “Fostes lavados, santificados, justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus” (1 Cor 6, 11). O batismo santifica o cristão. Mas sua santidade deverá se atuar ao longo da vida. “Procurai a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12, 14). A vida filial, a vida fraterna em Jesus, a entrega total aos homens e a união com Deus supõem um processo de amadurecimento. De um lado, a santidade é dom, já presente no batismo, quando o cristão é associado a Cristo, o santo por excelência. Mas ele se santifica na medida em que atua este dom. O santo atuou na sua vida, às vezes de maneira heróica, a sua santidade batismal.
A beatificação e a canonização são apenas um reconhecimento oficial da Igreja. Ato definitivo e irrevogável, significa que o santo (ou beato) está na glória, merece culto, imitação e se pode recorrer à sua intercessão. Há critérios para a beatificação e canonização, o mais importante é a vivência das virtudes cristãs. Isto significa que o santo foi fiel à sua vocação e fiel aos apelos pessoais de Deus. A caridade se revela a virtude por excelência. A santidade se encontra no amor. E não há beato ou santo que não tenha vivido a radicalidade do mandamento do amor a Deus e ao próximo.
Mas o culto aos santos, como explicá-lo teologicamente? É impossível amar a Cristo sem amar os que estão em Cristo. Os santos estão em Cristo, portanto envolvidos na sua comunicação de amor ao mundo através da Igreja. A intercessão dos santos invoca simplesmente a salvação única que Deus quer nos dar. Eles intercedem para que o plano de salvação se realize para o mundo, para que a vontade de Deus se faça. Eles mesmos conformaram sua vida à vontade de Deus, o que os fez santos. A invocação dos santos impõe uma condição: que se faça a vontade de Deus e não a do devoto. O que o beato ou santo quer para quem o invoca é que a vontade de Deus se realize naquela existência. Se entendido assim, o culto aos santos será mais uma forma de culto cristão prestado a Deus, tornado possível pelo Espírito Santo, autor da Igreja.
Dom Emanuel, seja bem vindo!
Na edição do 1º trimestre expressamos nosso agradecimento a dom Hélio pelos 32 anos de dedicação e carinho pela nossa casa. Nesta edição, queremos manifestar nossa alegria de ter como novo bispo dom Emanuel, que no dia 20 de maio tomou posse como sexto Bispo Diocesano de Caratinga. A nomeação seguida da posse foi uma resposta favorável às nossas expectativas e orações pedindo a Deus um novo pastor. Agora, nós seminaristas, assim como toda diocese, estamos repletos de esperanças e novas perspectivas.
Quanto a dom Emanuel, já é um velho conhecido da casa, lecionou por aqui e sendo Bispo de Guanhães sempre estava presente no seminário, pelo fato de os seminaristas da quela diocese estudarem conosco. Isto demonstra o carinho pelo seminário e sua preocupação com a formação dos seminaristas, que para ele são a “pupila dos olhos” do Bispo.
Logo após a nomeação, em entrevista concedida a revista Diretrizes, dom Emanuel salientou sua constante preocupação com a formação dos seminaristas. Segundo ele, o seminário já tem uma ótima estrutura e afirma que melhorou muito desde o tempo em que lecionava aqui. Por enquanto, quer dar continuidade aos investimentos, sobretudo com professores de fora, até formar professores daqui mesmo. Expressou também que quer dialogar com cada seminarista e manter uma presença mais constante, até mesmo no futebol, o qual Dom Emanuel disse gostar muito, especialmente, o de salão. Afirma, de modo geral, que o relacionamento com os seminaristas será bom, sua presença junto de nós não será apenas de celebrar a missa de vez em quando.
Todo esse processo foi uma experiência muito singular, para toda a diocese, de uma maneira mais específica, para nós no seminário, que desde o pedido de renúncia do Dom Hélio, aguardamos ansiosamente por uma resposta favorável. Nossas orações sempre foram confiando na providência divina de um Bispo Pai e Pastor. No dia na nomeação a alegria foi contagiante, nossa casa ficou em festa, apesar de os seminaristas de Guanhães ficarem sem Bispo por um tempo, mas tudo pelo serviço à Igreja.
A partir de então, todos se dispuseram a colaborar na organização da posse. Os padres, as congregações religiosas, nós do seminário, as comunidades, enfim, todos que fazem parte da diocese. Isso para que tudo acontecesse da melhor maneira possível. Não podia ser diferente... Aconteceu! Com o esforço de cada um a festa foi marcante. Todos traziam no rosto a satisfação de estar ali e participar. A diocese, que durante um ano uniu-se em preces, viu naquele momento as mesmas serem atendidas.
Assim, nós seminaristas, estamos apostando em uma relação muito positiva com nosso Bispo, pois ele vem demonstrando um carinho especial conosco. Sua presença em nosso meio, representa nova fase na caminhada vocacional de cada seminarista. A experiência dele como padre e Bispo nos ajudará no crescimento e discernimento rumo ao sacerdócio. Será a oportunidade de, desde já, irmos estreitando os laços e construindo nossa unidade para fazermos dessa relação uma verdadeira Igreja, cujo Pastor nos conduzirá sempre para as melhores pastagens.
Queremos fazer desse momento, tão especial, um momento de confiança na graça de Deus, se rezamos pedindo um novo pastor, nossas orações, agora, são em prol do trabalho dele. Que o próprio Jesus Cristo, que prometeu estar com os apóstolos todos os dias, possa estar também junto de Dom Emanuel, o qual é hoje sucessor dos apóstolos e mensageiro maior do Evangelho em nosso meio. Esperamos que as palavras de nosso Bispo sejam a oportunidade diária de santificação do povo a ele confiado.
Resta-nos agora desejar a dom Emanuel as boas vindas, que Nossa Senhora do Rosário, padroeira do Seminário, interceda a Deus Pai pelo seu episcopado. O Seminário Diocesano o acolhe de portas abertas. Assim como se demonstrou aberto ao diálogo nós também estamos. Queremos caminhar juntos, sendo fraternos, um ajudando o outro, servindo à Igreja e colaborando na construção diária do Reino, sendo discípulos e missionários a serviço da misericórdia.
Ser humano: um ser para a vida no futuro
A humanidade contemporânea necessita de novos valores. Aqui a abordagem não irá contradizer, em momento algum, a ideia de Martin Heidegger: o homem é “um ser para a morte” até porque ele está se referindo ao tempo, o finito do ser, mas, apenas complementar e atualizar o modo de ver a filosofia da existência numa visão mais atualizada, refletindo sobre a vida para melhor entendimento da superação do vazio ético que incomoda o Ser da Natureza.
Para conhecer melhor o princípio da generalização do mundo físico ao qual estamos vivendo, é preciso considerar, sem dúvida, o desenvolvimento progressivo das revoluções dos sistemas científicos e filosóficos do Ocidente, a partir do século XVII. No começo foi com René Descartes, e daí a escassez das questões metafísicas do “Ser”, por que os interesses eramde levar em conta as consideraçõesdas investigações dos objetos da natureza, para trazer novas soluções para a vida através do conhecimento científico. Mas, com o tempo veio a pergunta sobre o ser e sua natureza. No final do século XIX, e durante o século XX até aos nossos dias, vale repensaro critério da humanidade, levantando objeções axiológicas e ontológicas, ou seja, questionamentos sobre a existência do Ser humano e sua conduta com relação à vida do planeta futuramente.
A filosofia existencial do século XX é considerada a definidora da humanidade, de modo que o Ser deva saber o seu ciclo vital: início e término. É preciso encontrar em si mesmo o sentido de sua existência. A expressão verbal“ousar” ajudará na recriação de novos valores existenciais. A moralidade e a liberdade se montam juntas conduzindo o ser à felicidade. É obter mais finalidades pelo agir e cooperar com o progresso mutante da revolução tecnológica. E, ser o sujeito-ator de toda a arte com autonomia, vivendo o ideal do cotidiano, à base do dinamismo em si, pela ideia de estar construindo tal liberdade por ser um conhecedor das novidades imediatas da vida no domínio sobre as mesmas, isto é, dar sentido a caminhada vocacional diante das mudanças progressivas e revolucionária.
Neste ponto, considera Immanuel Kant o conceito do Imperativo Categórico como o dever e,se aprecia o resultado do livre-arbítrio individual.Ele supõe agir com base em uma máxima que também possa ter validade como uma lei universal. Com o Imperativo da responsabilidade, Hans Jonas vai além de Kant, ressalta o valor necessário; só depende da ação, e nem sempre o ser considerado bom é aquele que procura ser bom, mas o que age bem em virtude do bem em si mesmo, sem a finalidade própria, e sim para a comunidade, para o planeta.
No princípio de responsabilidade Jonas deseja de que exista uma humanidade verdadeira disposta a assumir o “tu deves” e, esta solução é definida para fundamentar a estrutura da ética da civilização tecnológica.Tanto pela vida da natureza, da pessoa quanto a da ecologia. A nossa responsabilidade no dinamismo confiado à humanidade, partirá do dever de cada sujeito na busca da autonomia, de que deve ter para com toda a humanidade futura, o respeito.
A responsabilidade requer ainda, o esforço competente da formação de consciência racional e protagonista fora do benefício puramente individual.O dever do responsável é, porém, com bem comum e universal na pluralidade. É nesta situação que os filósofos Kant, Heidegger e Jonas pretendem ver a plenitude da vida da humanidade. O objetivo maior de nossos dias talvez seja a preocupação com relação à humanidade e a ecologia, no exagero do sistema tecnológico a sobrepor à sensibilidade do Ser humano. A humanidade há de continuar a conservar sua potencialidade e seus valores. E, por conseguinte, a vitória do homem foi e sempre será autenticamente confiada a Deus. Entretanto, uma razão pela fé nos leva a um novo paradigma de pés no chão.
Alexandre Satil
Seminarista, 3º ano de filosofia
diocese de Caratinga
A relação entre mística e Teologia
Já dizia um sábio e grande poeta chamado Maria Quintana: Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões, não falaria em Deus nem no Pecado — muito menos no Anjo Rebelado e os encantos das suas seduções, não citaria santos e profetas: nada das suas celestiais promessas ou das suas terríveis maldições... Se eu fosse um padre eu citaria os poetas. Rezaria seus versos, os mais belos, desses que desde a infância me embalaram e quem me dera que alguns fossem meus! Porque a poesia purifica a alma e um belo poema — ainda que de Deus se aparte — um belo poema sempre leva a Deus!
Um teólogo ao entrar em contato com os versos de Mario Quintana, dir-nos-ia que nosso artífice da literatura descreve de forma poética a diferença e semelhança entre teologia e mística. Sem dúvida, seus versos falam de sua experiência religiosa, de sua experiência de fé. Em suas palavras esconde uma certa racionalidade do mistério, mas ao mesmo tempo um anseio de tocar, não com as mãos ou a razão, neste mistério inefável. Ele deseja tocar com o coração, sentir que Deus fala diretamente ao coração, pois o amor é belo, Deus é amor, logo, Deus é belo e a poesia é a máxima expressão da beleza literária. Falar de Deus com poesia é unir mística e teologia.
Tanto a teologia quanto a mística, nascem da experiência de fé. A teologia da fé que ama saber: “fides quaerens intellectum” (a fé buscando entender) é a expressão clássica de Santo Anselmo. Ela nasce da angústia interior que a razão possui em querer explicar no que se acredita. Nessa tentativa de explicar o que se crer, a teologia cria o discurso sobre Deus. Só que ela sabe não ser capaz de abarcar todo esse mistério numa palavra ou num conceito. Reconhecendo não ser capaz de dissecar, tão pouco de esgotar, a experiência de fé; e dizer sobre esta tudo que se pode, ela inclina sua cerviz intelectual numa vênia profunda diante do mistério inefável e diz: “tudo é teoria, não passa de conceitos, visto não podermos manipular Deus, mandem chamar minha irmã, a mística. Ela sim tem muito a falar-nos. Enquanto estou aqui em baixo, esforçando-me para subir, ela tem livre acesso os céus, vê Deus face a face.”
Eis que ela emerge – também da experiência – mas já não dessa experiência intelectiva e especulativa. Como acentuou nosso poeta, não do que os profetas, santos ou até mesmo o anjo caído tem a nos dizer. Ela fala-nos a partir da sua íntima relação amorosa com o Amado. Como o discípulo amado fez na última ceia, sem o mínimo esforço de sua parte, a mística tem a alegria de ser convidada pelo próprio mestre a reclinar no seu peito. A ouvir o pulsar de seu coração. Escutar o ritmo de amor com que se movimenta.
O teólogo nos mostra teorias sobre Deus, já o místico, nos leva até Ele, para diante D'ele escutarmos: “não precisa de todas essas palavras, basta a comunhão, muito prazer, eu sou Deus que tentas dizer.”
Dalmo Siqueira
Seminarista, 2º ano de Teologia, Inhapim,
Diocese de Caratinga
Assinar:
Postagens (Atom)