terça-feira, 7 de agosto de 2012

A Relação humana de Jesus


No início do cristianismo houve vários questionamentos teológicos sobre a pessoa de Jesus de Nazaré, alguns deles foram considerados heresias. Uma das perguntas mais pertinentes é se Ele de fato foi um de nós, passando por todas as tentações e inquietações da existência humana, se era completamente humano. Como era a relação humana de Jesus com as pessoas de sua época?
A pessoa humana de Jesus é atraente e apaixonante, considerado pelos cristãos sendo o revelador do Pai, filho de Deus, que fez experiência humana, habitando entre nós (Jo 1,14). Jesus não deixou de ser humano para se mostrar que era divino, em seu gesto mais humano evidencia sua divindade.
Duquoc (1977) afirma que a partir da encarnação o conhecimento de Deus passa pelo conhecimento de Jesus. Jesus é o rosto humano de Deus “quem me vê, vê o Pai” (Jo 14, 8). Quem se encontra com Jesus, encontra com Deus. Nos evangelhos as pessoas que se encontram com Jesus, sentem a presença amorosa de Deus em sua vida. Acontece uma transformação interior na vida de quem o encontra. Ele torna-se um “sinal de Deus” no meio do povo.
Jesus crescia "em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens" (Lc 2,52). Esta citação do evangelho de Lucas demonstra claramente que Jesus fez uma experiência humana semelhante a todos os outros humanos, passou por todas as fases da vida e as inquietações humanas, exceto o pecado.
Toda a vida de Jesus é uma vida de serviço à humanidade, uma existência para os outros. (TAVARES, 2004, p.529). Jesus quebra todos os preconceitos culturais existentes e não se incomoda com as críticas de seus adversários. Jesus vive inteiramente para o Reino e se torna para os cristãos, ponto de referência, com seu jeito de ser e de agir.
A proposta do Reino de Deus anunciado por Jesus é justamente, fazer que seus seguidores tenham uma vida de comunhão com Deus e aos irmãos, em defesa da justiça social, da dignidade humana, da paz plena.  Ele não formula teorias e nem código de leis, sobre o Reino, mas em seus relacionamentos se percebe a sua praticidade, o seu único mandamento para seus discípulos é a vivência do amor (Jo, 15, 12). Neste sentido, o cristianismo não é uma imposição de normas, mas uma proposta de vida, uma modo de viver neste mundo, sem ser do mundo (Jo 17, 15-18).
Quando Jesus está conversando com as pessoas, não impõe aos outros suas opiniões, mesmo quando não consegue convencer não apela para a força e violência, não oferece respostas prontas, mas provoca em seus ouvintes e interlocutores a autoconsciência, uma reflexão crítica diante da situação da realidade social.
Jesus vai ao encontro dos indefesos, excluídos, marginalizados, dedica uma atenção especial aos pobres, pecadores e mulheres de seu tempo, se relaciona com todos, não evitando ninguém. (TAVARES, 2004, p. 523). Uma das suas características é a sua relação com as pessoas: não exclui ninguém, dialoga com todos. Valoriza cada pessoa, respeitando como ela é, cultiva especial atenção a todos sem distinção, acolhendo-as como expressão do amor de Deus, resgata a identidade pessoal, recupera o direito da liberdade de escolha, e defende a dignidade humana.
A prática da vida de Jesus está ligada diretamente  com a situação real da vida comum das pessoas de seu tempo. O discurso de Jesus não é isolado, separado da realidade de sua época, mas está profundamente em relação com as pessoas de seu mundo: com a situação social, religiosa, econômica, política e cultural.
Jesus estabelece uma nova relação com Deus, feita pela gratuidade do amor, que nenhum esforço humano pode comprá-lo, ou conquistá-lo por mérito. A comunhão que Jesus tinha com Deus se reflete na comunhão com os irmãos dentro da comunidade.
Ao longo de sua vida, Jesus revela um Deus próximo, afetivo, que transparece nas suas relações interpessoais.  Neste sentido, a forma como Jesus se relaciona com as pessoas nos provoca a ter as mesmas atitudes. A pessoa de Jesus é modelo humano para os cristãos e não-cristãos, na capacidade de acolher aos outros, sem julgá-los, não usando preconceitos culturais e religiosos. Sua grande preocupação é o respeito à pessoa humana em defesa da sua dignidade.

Referências bibliográficas:

DUQUOC, Christian. Cristologia: O homem Jesus. Trad. Atico Fassini. São Paulo. SP Ed. Loyola, 1977.
TAVAREZ, Sinivaldo. A singularidade de Jesus e sua missão a partir de suas distintas relações. REB n° 255, v. 64. Petrópolis, RJ Vozes 2004. P. 515- 547.


 Elias Garcia de Moraes
3º ano de Teologia
Diocese de Caratinga

Fala Mestre!

Parece que a voz de João Batista continua a ressoar em nossos ouvidos: Endireitai o caminho do Senhor!
É necessário ir ao deserto, deserto com Ele, e deixar que Ele nos fale ao coração. Talvez possa chamar isso de oração-intimidade.
Acredito eu que no deserto ouviremos novamente “Endireitai o caminho do Senhor.” Tornai planas suas veredas, mudai de vida, tomai nova reta. Tornemo-nos profetas, profetas do tempo presente que urge e não volta atrás.
Tomemos consciência da profundidade do deserto-lugar da escuta, do silêncio, da presença, presença do Amado que nem sempre é amado. Deserto, lugar da solidão povoada. Deserto lugar da oração.
Mas o que é mesmo oração? Oração é olhar Nele, para socorrer os olhos dos outros. Oração é necessidade de amor. É vida!
Quantos caminhos com direção contrária, vocações mal vividas, experiências frustradas, testemunhos falsos. Talvez não foram  discernidas em desertos e oração.
 Oxalá todos nós tivéssemos um pouco de João Batista – O precursor. Homem que preparou os caminhos do Senhor e apontou de fato o cordeiro. Homem que descobriu o Senhor que o visitou e o serviu quando ainda estava no ventre de sua mãe.
Quando descobrimos o Senhor na intimidade, somos impulsionados por Ele mesmo a estabelecer mudanças em nosso caminho. Descobriremos assim nossa vocação e vamos a partir dela fazer de nossa vida um ato de fé, serviço à humanidade.
Morreu pela verdade e não temeu ir até o fim. Seu sangue derramado pode ser fonte de vida para nós, se de fato queremos ir até o fim na construção do reino que já se encontra em nosso meio.  Ou ainda melhor... Está dentro de nós!
Olhemos, olhemos em nosso interior, no deserto de nossa existência, lugar do maior encontro com Ele, o Amado que não é amado, repito. Façamos O amado, amemos O profundamente e vamos com Ele, por Ele e Nele, enfrentar as feras e a sede ferrenha do deserto de nossa alma.
Ao encontrarmos, façamos com Ele diálogo, mas aproveitemos para escutar lhe, mais do que falar. Façamos com Ele um colóquio de amor, tão radical que nos impulsione a endireitar o caminho, mudar a rota e orientar a outros que clamam solitários em seus desertos.
Talvez possamos pensar que é fácil ser orante, tecer com o Amado relação, estabelecer amizade constante e prosseguir nas noites da vida. Até ao ponto de dar a vida, o sangue.
Hoje a decisão é dar se dia a dia, comprometer com o exercício à unidade. Unidade conosco, com os outros e com Ele, o Senhor Amado, o cordeiro apontado por João. Assim quem sabe de verdade deixaremos espaço para que Ele cresça e diminuamos nós com nossas vaidades e infidelidades frente ao amor libertador.
Ana Maria Scarabelli
Professora de História da Educação