A teologia não supõe apenas um estudo sobre Deus, mas, sobretudo propõe uma experiência de Deus. A partir desta experiência torna-se possível tecer um discurso sobre o mesmo. A experiência de Deus só é possível, porque primeiro Ele fez experiência do humano em Jesus, abrindo um canal de contato entre o criador e a criatura, o que no princípio já existia, mas foi rompido pelo pecado. A experiência do sagrado na teologia é contemplada como espiritualidade, o que em nenhuma hipótese significa alienação da realidade, pelo contrário, aquele que faz esta experiência torna-se, movido pelo Espírito, um agente de transformação. Assim entendemos que o homem espiritual é aquele que se encarna na história buscando superar suas ambiguidades, a partir do prisma relacional de fé que tem de Deus. Já que a experiência de Deus só é possível graças à encarnação de Jesus em nossa história, não se pode conceber uma experiência espiritual autêntica que alie o ser humano desta esfera.
A teologia é um discurso a partir de uma experiência feita do sagrado. Quando Deus não é experimentado, todo discurso sobre Ele torna-se vazio e sem consistência teológica. O Deus cristão é o Deus da experiência, pois Ele assim o quis. Só reza de verdade o Pai-Nosso, quem fez a experiência de um Deus que é pai por amor e assim sendo, nos fez irmãos. A qualidade da teologia é a experiência que se faz do transcendente, experiência esta, que lança aquele que a fez para o mundo do transcendente, a ponto de suas atitudes nem sempre serem bem compreendidas por todos, por vezes nem mesmo pela instituição que fala em nome de Deus.
A teologia é a evangelização da inteligência que quer saber quem é o Outro que convida a ser conhecido. Conhecimento que se intensifica na experiência, mas que não se esvazia, pois Deus se revela, mas não se desvela, é sempre mistério a ser experimentado, por vezes impossível de ser traduzido em palavras ou argumentos teológicos, abrange a totalidade do ser humano e a supera, não se permitindo ser manipulado, mas ser encontrado nas realidades do mundo. A teologia assume então sua dimensão existencial.
A experiência de Deus é um constante convite à relação. O cristianismo é uma experiência relacional de Deus com o homem e do homem com Deus, pois afinal o destino último do homem e de toda a criação é a comunhão plena com Deus, este seu destino tem suas raízes mais profundas na sua ontologia. A pessoa é o sujeito da experiência e a história é o lugar onde se dá concretamente esta experiência. A experiência cristã é a configuração do cristão a Cristo, que se dá por meio da graça recebida no batismo, onde o agora cristão é acolhido na grande família cristã e convidado a identificar o seu jeito de viver ao do próprio Cristo.
A experiência cristã lança o cristão no totalmente Outro, capaz de preencher e dar sentido pleno a existência humana. É experiência de doação; oriunda do Pai que se deu a nós naquele que lhe é mais querido, o Filho, fazendo da existência cristã, um encontro do humano com a Trindade. Onde o Pai é totalmente autodoação no Filho a nós. Essa doação cria comunhão entre o humano e as pessoas divinas gerando uma divinização que explicita uma radical humanização. Assim podemos assegurar que o maior distintivo do cristão que fez uma profunda experiência de Deus não se verifica tanto por meio de palavras ou atos miraculosos, mas por meio da intensidade como ama seu próximo. E amor só se experimenta amando. A experiência do divino pode ser melhor compreendida por atos simples do que por raciocínios complexos.
Matias José Pereira
Seminarista 4º ano de Teologia
São João do Manhuaçu, Caratinga
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