A preocupação com a melhor maneira de fazer uma aprendizagem, independentemente da idade, deve considerar a contribuição do método científico. Nesse sentido, é válido ler Peirce, um lógico e pragmático americano que também acredita na superioridade do método cientifico para o progresso do conhecimento.
É muito natural a dúvida se fazer presente no processo de conhecimento. Porém, é preciso ficar claro que o estímulo da dúvida deve ser um esforço para atingir um estado de crença. Esse esforço é o que Peirce denomina de investigação. Se com a dúvida o esforço começa, com a crença, ou seja, com o término da dúvida, o esforço alcança seu fim. Para Peirce, “quando a dúvida cessa, cessa também a ação mental relativa ao assunto; e se prosseguir estará privada de propósito” ( PEIRCE, 1972, p. 78). Com o fim da dúvida, fixamos crenças que consideramos como verdadeiras. Para que de fato estejamos comprometidos com essa busca de conhecimentos verdadeiros, o autor nos recomenda priorizar o método científico.
No método o científico,as crenças são fixadas por algo externo e estável que afete a todas as pessoas. “Devemos dispor de algo que afete ou possa afetar todas as pessoas. E embora as maneiras de afetar sejam necessariamente tão diversas quanto as condições individuais, o método deve ser tal que as conclusões últimas de todas as pessoas sejam as mesmas” (Id., Ibid. p. 85).
A idéia do autor é de que a base comum de convergência das opiniões do grupo seja a realidade observada e não especulações de uma ou de um grupo de pessoas. Discutindo o conceito de realidade, Peirce explica: “Há coisas “Reais” cujos caracteres independem por completo de nossas opiniões a respeito delas; esses Reais afetam nossos sentidos segundo leis regulares e, conquanto nossas sensações sejam tão diversas quanto nossas relações com os objetos, poderemos, valendo-nos das leis da percepção, averiguar através do raciocínio, como efetiva e verdadeiramente as coisas são. Todo homem, desde que tenha experiência bastante e raciocine suficientemente acerca do assunto, será levado à conclusão única e verdadeira. A concepção nova que se introduz é a de realidade” (Idem).
Ressaltando a importância do uso do método científico, o autor comenta que uso dele é uma constante em vários campos do conhecimento, sobretudo porque ele permite conciliações de opiniões. Peirce esclarece ainda que, acima de tudo, seu interesse é que nossas opiniões coincidam com os fatos, preocupação ausente nos três outros métodos já abordados. Coincidindo com os fatos, nossas opiniões são acolhidas e, uma vez feita, a escolha nos obriga à adesão. “A força do hábito fará, muitas vezes, com que homens mantenham velhas crenças mesmo depois de adquirir condição de perceber que elas são desprovidas de base sólida”(PEIRCE, 1972, p.88). Entretanto, a reflexão permitirá domínio sobre os velhos hábitos e “o homem deve conceder à reflexão o seu peso total”.
Finalmente, refletindo sobre a fixação de crenças, demonstra que elas vão além do aspecto particular e atingem o coletivo como base de uma moral. Sendo assim, aquele que está em busca da verdade e procura evitá-la ou ousa desconhecê-la se encontra em um lamentável estado de espírito. Enfim, Peirce usa uma metáfora para demonstrar a importância do método científico na busca do conhecimento: “a genialidade do método lógico desenvolvido por um homem deve ser por ele amada e reverenciada como uma companheira que ele houvesse escolhido dentre todas as coisas do mundo. Não é necessário que ele despreze o que não seja ela; pelo contrário, ele pode prestar homenagem profunda a tudo mais, pois que, ao fazê-lo, honra mais lhe estará concedendo. Foi o que ele escolheu e ele sabe que fez a escolha correta” (Id., Ibid. p. 89).
BIBLIOGRAFIA
PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica e Filosofia: Textos escolhidos de C.S. Peirce. (Trad)
Octanny Silveira da Mota e Leonidas Hegenberg. Ensaios extraídos dos Collected
Papers of Charles Sanders Peirce, v.8, 1931 –1952. São Paulo: Cutrix, 1972.
PEIRCE, Charles Sanders . Semiótica. São Paulo: Perspectiva, 2000.
IBRI, Ivo Assad. Kósmos Noètós: A Aquitetônica Metafísica de Charles Peirce. São Paulo:
Perspectiva: Hólon, 1992. (Coleção Estudos; v.130).
PORTO FILHO, Custódio Moreira. Tese de doutorado sobre a Intuição, Dúvida e Cognição nos Textos Anticartesianos de Peirce. PUC-SP, 1997.
Por: professor Sérgio Pedro Duarte
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